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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Vitrofusão

Vitrofusão

A Vitrofusão não é mais que uma das diversas técnicas, que o Homem vem desenvolvendo ao longo da História, para transformar o vidro em utensílios de uso comum, ou simplesmente obras de Arte.
Europeus e Americanos, sobretudo estes, têm vindo a desenvolver experiências nesta área e hoje, pode dizer-se, que é uma técnica perfeitamente dominada por Artistas das mais diversas proveniências, tal como o foi, durante séculos, com o vidro soprado.
Para encontrar as primeiras peças elaboradas através da fusão do vidro, teremos que recuar cerca de três mil anos, em plena Idade do Bronze pois foi, segundo os achados arqueológicos encontrados, que, teria sido descoberto, por acaso, a forma de produzir o Vidro, a partir da fusão do mineral mais abundante no planeta Terra: a Sílica. Foi então que começaram a surgir os primeiros artefactos, confeccionados por esse processo.
Segundo Plínio, iminente geógrafo romano (23 a 79 d.C.), num dos seus relatos aborda esta temática com uma pequena história, que será aquela que existe documentada, na sua História Natural, ainda que outros historiadores situem esta descoberta, próximo dos 3.000 a.C., mais concretamente na Mesopotâmia, tal como se refere acima.
Reza essa mesma história, que uns mercadores de nitro, também chamado salitre, ancoraram os seus barcos na costa mediterrânica, mais concretamente na foz do rio Belo, e começaram a preparar as suas refeições. Como não encontravam pedras que servissem para amparar as panelas, lembraram-se de utilizar os blocos de nitro que transportavam na carga. Ao fim de algumas horas, foram surpreendidos com uns pequenos rios de matéria incandescente que escorria das fogueiras e então crê-se que seria aí que nascera o Vidro. Muito embora não pareça muito verosímil, há no entanto alguma coerência já que os materiais para a sua produção estavam lá, tal como a areia (sílica) e o nitro (nitrato de potássio), dois componentes que entram em proporções distintas, na composição do Vidro, embora se reconheça ser pouco provável, que nas condições em apreço, tal fenómeno se verificasse. De qualquer das formas, todas estas incoerências só servem para provar que não é possível situar temporalmente o aparecimento, não só deste material, nem do princípio da sua manufacturação em objectos que têm chegado aos nossos dias. A Fusão de Vidro foi, sabe-se com certeza, que apareceu e ficou para sempre.
Esta técnica manteve-se durante séculos quase em regime de exclusividade até que a partir do Sec. V e com o advento do Vidro Soprado, foi perdendo alguma da sua importância, pelo menos para a industria, mas foi ganhando adeptos entre os artesãos, que viam nesta técnica uma outra forma de expressão artística.
Foi no entanto com o Renascimento e com o aparecimento dos grandes mestres do Vitralismo, que o vidro fundido e convertido em folhas de diversas espessuras, voltou a ter papel preponderante no desenvolvimento artístico.
Mas foi sem dúvida, no início do século e durante o período da Art Noveau, que se verificou o ressurgimento da maior parte das técnicas, em que o Vidro é Rei.
Tiffany foi um dos artistas, que desenvolveu a técnica da vitrofusão, para complementar algumas das suas notáveis obras. Finalmente a partir dos anos trinta/quarenta, esta técnica entra na sua fase decisiva para ganhar o seu espaço no seio do mundo artístico. È nesta altura que os estudiosos se começam a preocupar com pormenores até então algo descurados ou desnecessários. É o caso da Compatibilidade entre os diversos vidros utilizados na fusão, factor decisivo para a realização com sucesso, de projectos de vitrofusão que envolvam dois ou mais vidros na sua composição.
Nos nossos dias esta técnica está de tal forma evoluída, que dá a sensação que não existem limites á imaginação e criatividade do Homem.
Com o Vidro, tudo ou quase tudo se pode fazer.
Mas então o que é a Vitrofusão?
O Vidro tal como o conhecemos, não é mais que “um falso sólido”, já que á medida que a temperatura sobe sobre a sua estrutura molecular, aquele vai amolecendo até chegar praticamente ao ponto de fusão, permitindo dar-lhe formas e estruturas, que não seria possível com ele no seu estado natural (sólido). Depois o artista aproveitará esta particularidade para lhe transmitir a sua criatividade ou “veia artística” se quisermos transformando em peças de utilidade ou mera diversão.

A Vitrofusão surge na minha vida há cerca de nove anos, mas não posso dizer que foi a minha primeira experiência no fantástico mundo das Artes. Antes disso, vaguei por outras formas de expressão artística, desde a escultura em ferro, em gesso, pirogravura, pintura a óleo, artes decorativas e finalmente a Vitrofusão. Muito embora tenha surgido mais tarde, não é de forma alguma o final da linha, ainda que me sinta muito confortável com o que faço neste momento. Costumo dizer que cada peça que faço “é uma experiência única”, já que proporciono ás pessoas que fazem o favor de comprar as minhas peças, o “prazer” de possuírem algo que mais ninguém terá. Há verdadeiro gozo, quando se abre a porta do forno e verificamos que todo o nosso trabalho criativo foi compensado. Ainda hoje passado todo este tempo, sinto alguma ansiedade na hora de ver o resultado final de um, dois ou mais dias de trabalho. A Vitrofusão não é só fundir e dar forma ao vidro. È criar, é pesquisar, é “inventar” novas formas, novos conceitos, é não nos limitar-mos a fazer o que todos fazem, que embora muitas vezes seja necessário, o mercantilismo assim o obriga, mas devemos guardar sempre uns momentos, por vezes únicos, para fazer-mos algo que nos transcenda, que nos faça gostar daquilo que fazemos e se possível que consigamos ser diferentes.

- por Jalo (iLopes)

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